Casa de Corda | Um lugar essencial

Por @kddias uma visão de nossa hóspede e sua experiência por aqui

Malas prontas e a correria pós-almoço de uma sexta que não prometia muito, mas já mostrava tudo e um pouco mais — de vinho. Minhas amigas e eu entramos no carro, seguimos para a Rota Ecológica dos Milagres e, no meio do caminho, uma paradinha para dar carona à dona da Casa de Corda. Por sinal, vou falar dessa mulher já, já, acompanhe!
Chegamos na tão esperada Casa de Corda! A partir daí, e preste bem atenção aqui, depois de passar pelo portão de madeira azul o cenário já comunicava a ótima escolha que fizemos.
Depois da acomodação, resolvemos fazer nosso jantar.
O prato da noite? Talharim com o molho pesto da minha amiga Lu e o vermelho do tomate cereja para compor a beleza da mesa posta por minha amiga Polly, uma canceriana apegada aos detalhes.
Te ajudo a visualizar melhor o ambiente noturno do local:
Cozinha a céu aberto, vitrola sobre a mesa tocando um vinil de Sérgio Sampaio com poesias que nos permitiram dar play na culinária de vinte minutos, e um vinho branco marcando o tom solto da conversa.
Começamos a tagarelar, as meninas fizeram um resumo muito instigante de como conheceram a Nat (dona da Casa) e do que viveram no período desse encontro — tá, mas aí é uma parte que deixo no off. O que eu posso compartilhar com vocês é a linha cardíaca dessa mulher, que explica muito o espírito da Casa de Corda.
Nascida no estado do pão de queijo e do frango com quiabo, Nat é turismóloga e depois de um longo período de perrengues, quando ainda vivia de turismo próximo a Brumadinho, decidiu pegar o rumo do Nordeste por conta do 360° que a vida deu nela. Mas, na verdade, essa conversão de vida aí era o universo mostrando que tinha um caminho logo ali, pronto, só esperando ela chegar e colocar cordas, regionalidade, empatia e nós, criando um ambiente que dá o sentido verdadeiro de conexão, começando pelo café da manhã.
A proposta da Nat é dar ao visitante algo além da hospedagem, propiciando os tais laços em um momento único e coletivo (o café é servido para todos em uma grande mesa com a musa presente), enquanto conduz a narrativa entre compartilhar a sua vida e mostrar a fiel essência da região e de sua sazonalidade. Então, oferece esse café da manhã que nos faz puxar uma cadeira e dividir os contos entre um bolinho de milho e uma tapioquinha de cuscuz (!) — refeição que a gloriosa Juju faz como ninguém. Ah, essa muié te faz chorar de emoção… A vida de Juju é um roteiro ficcional para alguns ou “apenas” a história de uma mulher, negra, nordestina, batalhadora, do interior de Alagoas, com uma força enorme que se propaga em seu sorriso.
No quadro que fica de frente para a mesa do café estão os contatos dos possíveis serviços para o visitante aproveitar o dia, mas a vontade é esticar o papo ali naquele cenário entre um pretinho e um suco, entre uma gargalhada e a diversão que é saber da vida “dos ôto”.
Com o bucho cheio, é chegada a hora de visitar o mar verdinho que tanto falam por aqui, a praia de Marceneiro, e, puxa vida, que local abençoado! O mar é poético. Ele banhou as nossas crenças mais sonhadoras e desatou o nó que segurava nosso corpo, essa era a sensação. Talvez fosse culpa de Chico César a causa desse “estado de poesia” que ajudou a temperar a experiência. Depois de batermos pernas de um canto a outro — o sol já perto do seu descanso —, voltamos para o aconchego de corda porque a fome se apresentava.
Lu, muito ligeira que é, montava o ceviche de tilápia que conduziria a noite com mais vinho branco. Era um momento de misturas: o som do vento se unia com o som de vinil, criando uma melodia especial, e o cheiro da comida, às vezes, sobressaía o cheiro de noite daquela cozinha a céu aberto. Um perfeito estado de presença permitiu esse encanto todo. Duas da manhã do domingo e o papo ainda rolava na mesa, uma animação só, não sei como alimentamos tanta conversa. Estava tudo muito tranquilo até decidirmos dormir.
A cena que vem agora é a mais aleatória do rolê (mas combinava com o ambiente).
O cansaço misturado com uma leve dose de contentamento no estado líquido pedia desesperadamente camas cheirosinhas e confortáveis, e as encontramos. Já deitadas, resumindo o dia maravilhoso que tivemos, do nada, uma rãzinha surge do teto e cai direto no ombro da Lu que tentava dormir, e nesse momento (a gritaria reinava, óbvio) eu só pensava no casal de friends que estavam no casebre em frente ao nosso. Aaaah, e antes que você pense “Nossa, uma rã, como assim?”, sim, gente, lugares abertos, próximos à natureza, são habitat de bichinhos, ok?!
A cena era caótica, a gente correndo de um lado para outro (rindo horrores), a rã fazendo o que ela sabe de melhor — pular — e, assim, se passou uma hora. Resultado: decidimos dormir literalmente empacotadas pelo lençol, as três na mesma cama, porque o medo tomou conta mesmo. A rã nessa altura do campeonato estava com mais medo do que a gente, a coitada ficou surda, certeza. Pelo menos na manhã de domingo tivemos mais histórias pra contar aos nossos colegas de Casa, e claro que fizemos toda uma encenação. Até hoje não sabemos o paradeiro da rã.
O domingo era o nosso último dia naquele lugar necessário. Pois bem, é isso que a Casa de Corda representa, essencialidade. Em alguma curva da nossa semana, antes de irmos pra lá, percebemos essa necessidade de buscar a paz, mas não imaginávamos encontrar a paz nas histórias que se cruzaram no enredo daquele final de semana, naquela casinha feita de nós. A egrégora daquele lugar remexeu as coisinhas nos nossos interiores, com leveza e simplicidade. Estar lá não é apenas descanso, é transformação com amor. A energia daquele espaço nutre demais o espírito do visitante.
E, no final de uma tarde de domingo, entramos no carro cientes de que fizemos a melhor escolha para aquele final de semana. Queremos voltar. E para quem não foi ainda, convido a experimentar o essencial.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagens Recentes
Depoimentos

Postagens recentes

alagoas

3 anos da nossa vilinha!

Nesse mês de outubro completamos 3 anos de funcionamento! Muitos desafios, aprendizados e gente querida que já passou por aqui. Realmente o que a gente

Ler mais